Filósofo e cientista político inglês, Thomas Hobbes nasceu
em Westport, hoje parte de Malmesbury, cerca de 140 km a oeste de
Londres, em 5 de abril de 1588, e veio a falecer em 4 de dezembro de 1679 com
91 anos. Filho de outro Thomas Hobbes,
sua infância foi marcada pelo medo da invasão da Inglaterra pelos espanhois, ao
tempo da rainha Elizabete I (1558-1603).
Seu pai, clérigo anglicano, vigário de Westport, foi um
homem turbulento e desapareceu após uma briga na porta de sua própria igreja,
abandonando seus três filhos aos cuidados de seu irmão, que tinha um negócio de
fabricar luvas em Malmesbury. Aos quatro anosThomas Hobbes foi
colocado na escola da igreja de Westport, depois em uma escola privada e
finalmente, aos 15 anos, no Magdalen Hall da Universidade de Oxford, onde
consagrou a maior parte do tempo a ler livros de viagem e estudar cartas e
mapas, e onde formou-se em 1608, já ao tempo de Jaime I (1603-1625).
Thomas Hobbes é outro
filósofo cuja vida está vinculada à monarquia inglesa; não menos que a Bacon, a
política e as intrigas da Corte afetaram sua existência e, sem dúvida, também
seu pensamento filosófico. Tornou-se preceptor de William Cavendish, que viria
depois a ser o segundo duque de Devonshire, ficando amigo da família Cavendish
por toda a vida. Como hábito na época, viajou com seu aluno à França e Itália,
onde verificou que a filosofia de Aristóteles que ensinavam em Oxford estava
sendo combatida e desacreditada devido às descobertas de Galileo e Kepler.
Pelo relato de um antiquário seu contemporâneo, sabe-se que Hobbes,
em certas ocasiões entre 1621 e 1625, secretariou Bacon ajudando-o a traduzir
alguns de seus Ensaios para o latim. Decidiu-se então pela vida intelectual.
O principal fruto dos estudos clássicos a que agora se
dedica foi a tradução da obra de Tucididas, um historiador grego, analista
político e moral da guerra do Peloponeso. A escolha desse autor e a publicação
de sua tradução em 1629 provavelmente deveu-se a preocupações de Hobbes com
a agitação política na Inglaterra e representaria um alerta seu contra a
democracia que teria enfraquecido a antiga Atenas.
Com a morte do seu aluno, o segundo duque de Devonshire, Hobbes voltou
a viajar agora em companhia do filho de Sir Gervase Clifton. Durante sua estada
na França, entre 1629 e 1631, ele estudou Euclides e tornou-se especialmente
interessado em matemática. Mas foi chamado de volta à Inglaterra para
se tornar o preceptor de outro William Cavendish, filho do primeiro discípulo.
Durante uma terceira viagem ao continente, com o jovem
Cavendish, de 1634 a 1637, ele encontrou-se com Marin Mersenne, um
reputado matemático e teólogo e, em 1636, com Galileo e René Descartes, cuja
ciência e filosofia o impressionaram. Hobbes recorda em
sua autobiografia que, por esta ocasião, numa roda de intelectuais, alguém perguntou
"O que é o sentido"? e ninguém soube responder.
Então lhe ocorreu que se as coisas materiais e todas as suas
partes estivessem em repouso ou movimento uniforme, não poderia haver distinção
de nada e conseqüentemente nenhuma percepção: assim a causa de tudo está na
diversidade do movimento. Lançou essa idéia em seu primeiro livro filosófico,
"Uma Curta Abordagem a respeito dos Primeiros Princípios". Ele então
planejou uma trilogia filosófica: De Corpore, demonstrando que os fenômenos físicos
são explicáveis em termos de movimento, o qual seria publicado em 1655; De
Homine, tratando especificamente do movimento envolvido no conhecimento e
apetite humano, que seria publicado em 1658, e De Cive, a respeito da
organização social, que seria publicado em 1642.
Em 1637 Hobbes retornou à Inglaterra
às vésperas de uma guerra civil.
Decidiu publicar primeiro o trabalho que pensava publicar
por último, o De Cive. Este circulou em cópia manuscrita em 1640 com o título
"Elementos da Lei Natural e Política", Parte I, sobre o homem e Parte
II, sobre a cidadania. Continham sua doutrina (vide abaixo) que depois seria
publicada impressa em De Cive e "O Leviatã". O manuscrito
irritou os monarquistas porque falava em um contrato social e os
parlamentaristas porque pregava o absolutismo.
Quando a crise se tornou aguda em 1640, Hobbes,
temendo por sua segurança, retirou-se para Paris, onde reintegrou-se no círculo
de Mersenne, escreveu "Objeções às idéias de Descartes". Em 1642
publicou o De Cive.
Em 1646 o príncipe de Gales(1630-1685), futuro Carlos II,
também refugiou-se em Paris eHobbes, estando naquela capital,
aceitou o convite para ensinar-lhe matemática. Isto levou-o ao círculo político
e aos temas políticos. Em 1650 publicou o antigo manuscrito "Elementos da Lei" em
duas Partes: "Natureza Humana" e "Do Corpo Político".
Em Paris Hobbes escreveu sua obra
prima, "O Leviatã" ou "Matéria, Forma e Poder da Comunidade
Eclesiástica e Civil", um estudo filosófico sobre o absolutismo político
que sucedeu a supremacia da Igreja medieval. A obra foi publicada no ano
seguinte, 1651, englobando todo o seu pensamento. No final do livro afirmou que
os súditos tinham o direito de abandonar o soberano que não mais os podia
proteger em favor de um novo soberano que pudesse fazê-lo. Esta posição foi
considerada como ofensa ao herdeiro Carlos II, exilado em Paris enquanto a
república sucedia a Carlos I na Inglaterra. Hobbesfoi olhado
como oportunista e repudiado pelos exilados de Paris, ao mesmo tempo que o
governo francês o tinha sob suspeita devido a seus ataques ao papado. Em fins
do mesmo ano de 1651 Hobbes voltou à Inglaterra
procurando estar em paz com o novo re gime.
Tendo retornado à Inglaterra aos 63 anos, por mais vinte Hobbes manteve
sua energia e combatividade, envolvendo-se em várias polêmicas no campo
científico e religioso. Quatro anos depois, em 1655, publicou seu De Corpore
("A respeito do corpo"), no qual ele reduzia a filosofia ao estudo
dos corpos em movimento. No ano seguinte, 1656, publicou Questions
Concerning Liberty, Necessity, and Chance, onde elaborava uma teoria de
determinismo psicológico.
Em 1660 Carlos II volta com a restauração da monarquia. O
matemático John Wallis acusou-o então de haver escrito "O Leviatã"
para apoiar o líder puritano Oliver Cromwell, abandonando seu rei na desgraça.
A carta de resposta de Hobbes foi publicada em 1662 sob
o título "Mr. Hobbes sob o aspecto de sua
lealdade, religião, reputação e maneiras", contando certas histórias do
período revolucionário que envolviam John Wallis e que foram suficiente para
emudecê-lo.
Apesar de toda crítica, Carlos II manteve Hobbes na
corte com uma pensão generosa e mantinha seu retrato nos aposentos reais. Mas o
parlamento votou uma lei contra o ateísmo em 1666 que o colocou em perigo. Hobbes,
então com 80 anos, queimou os papeis que poderiam incrimina-lo. A lei contra o
ateísmo foi desfeita pelo Parlamento mas, desde então, Hobbes não
pode obter permissão para imprimir nada relacionada à conduta humana. Isso,
aparentemente, porque o Rei condicionou sua proteção a queHobbes não
fizesse mais nenhuma provocação. Vários trabalhos escritos nesta época somente
foram publicados anos depois.
Hobbes morreu em 1679, famoso no
exterior, apesar de detestado por muitos na Inglaterra. Sua reputação foi logo
superada pela de John Locke. Somente no século XVIII seu pensamento ganhou nova
importância, dada pelos utilitaristas seguidores de Jeremy Bentham. É hoje
considerado um dos grandes pensadores políticos da Inglaterra.
PENSAMENTO
Hobbes é empirista e racionalista; põe em
prática o empirismo nas suas observações e conclusões sobre a natureza humana,
mas faz uma análise das palavras e do raciocínio que é dedutiva, racionalista,
principalmente em ciência política.
Contestando Descartes, pergunta: de onde viria o
conhecimento da proposição "eu penso"? Como não podemos conceber
qualquer ato sem seu sujeito, assim também não podemos conceber o pensamento
sem uma coisa que pense... Donde se segue "que uma coisa que pensa é
alguma coisa de corporal"
Descartes respondeu-lhe que existem "atos que chamamos
corporais, como a grandeza, a figura, o movimento"; esses atos
"residem" em corpos. Porém, diz Descartes, há outros atos que
chamamos intelectuais como o "querer, imaginar, etc... esses atos
"residem" em uma coisa que pensa, tenha ou não esta coisa o nome de
espírito, pouco importa, "conquanto não a confundamos com a substância
corporal, uma vez que os atos intelectuais não tem qualquer afinidade com os
atos corporais". Em suma, o pensamento difere totalmente da extensão"
.
Na sua concepção de natureza humana é básico o conceito de
conatus, a força genética do comportamento. É um impulso original ou
"começo interno" do movimento animal para se aproximar do que lhe
causa satisfação ou para fugir do que lhe desagrada. Esse conatus impulsiona o
homem a vencer sempre. A vida começa com o CONATUS positivo, o desejo. Em
termos de vida social, ultrapassar o outro é fonte primordial de satisfação,
por isso estar continuamente ultrapassado é miséria enquanto ultrapassar
continuamente quem está adiante é felicidade. É da sua natureza o egoísmo,
constituído por "um perpétuo e irrequieto desejo de poder e mais poder que
só termina com a morte".
A vontade obedece à razão, segundo o racionalismo clássico.
Porém, para Hobbes, é apenas apetite. Um determinismo
mecanicista regeria não só os movimentos do universo como também a atividade
psicológica do homem. O livre arbítrio não passaria de ilusão: seria apenas uma
expressão destinada a ocultar a ingnorância das verdadeiras causas das decisões
humanas.
O conatus provoca guerra de todos contra todos, é o estado
natural em que vivem os homens, antes de seu ingresso no estado social. O homem
é governado por suas paixões e tem como direito seu conquistar o que lhe
apetecer. Como todos os homens seriam dotados de força igual (pois o
fisicamente mais fraco pode matar o fisicamente mais forte, lançando mão deste
ou daquele recurso), e como as aptidões intelectuais também se igualam, o
recurso à violência se generaliza .
Mas, além do conatus, governa o homem também o instinto de
conservação e este leva ao desejo da paz. Deixado meramente a si mesmo, o
instinto de conservação é abertura para a violência enquanto esta não é um
risco e, ao mesmo tempo, para a paz tática que prometa conservação. Assim se define
o campo da lei natural de sobrevivência.
Por isso o instinto de conservação é peça tão fundamental na
filosofia de Hobbes quanto sua idéia do conatus, porque
para ele, ao contrário do pensamento aristotélico que tem o homem como um
animal social, os indivíduos só entram em sociedade quando a preservação da
vida está ameaçada. E estaria ameaçada pelos próprios indivíduos, se cada qual
tudo fizer para exercer seu poder sobre todas as coisas. A paz é a dimensão
mais compatível com o instinto de conservação.
Pode-se então supor algo como um contrato tácito entre os
homens, implicando em que contêm os seus ânimos, como defesa interna e que,
reunidos, formarão um povo, de modo que a multidão dos associados seja tão
grande ao ponto de garantir a defesa externa, tirando a esperança de seus
adversários de que um pequeno número baste para assegurar-lhes a vitória.
A contenção interna implica uma ética. No nível das relações
morais, é preciso que cada um - segundo Hobbes -
"não faça aos outros o que não gostaria que fizessem a si"; é preciso
evitar a ingratidão, os insultos, o orgulho, enfim, tudo o que prejudique a
concórdia .
As leis não são deduzidas por Hobbes de
um instinto natural, nem de um consentimento universal, mas da razão que
procura os meios de conservação do homem; elas seriam imutáveis por
constituírem conclusões tiradas do raciocínio. Tal postulado faz de Hobbesum
pioneiro do Utilitarismo, porque justificava a obediência moral como meio para
uma "vida social, pacífica e confortável".
As leis, no entanto, careceriam de um reforço como garantia
de seu cumprimento em salvaguarda do pacto social. Torna-se indispensável um
governo que fosse seguido por todos os componentes do corpo social, e isto
haveria de requerer que esse governo tivesse toda a força, porque somente seria
capaz de corresponder à sua finalidade se exercido despoticamente. Levando em
conta o desejo de ultrapassar a todos presente em cada um de nós, sempre
existiriam pessoas que, acreditando saber mais do que as outras, poderiam desencadear
guerras civis a fim de conquistar o poder só para elas.
Esta é a justificativa para o absolutismo, ao qual Hobbes não
atribui um direito divino, como os teólogos políticos de sua época, mas das
exigências do pacto social. Hobbesnão admite um governo
misto como a monarquia constitucional, acreditando que esta permite competições
comprometedoras da paz entre os vários detentores do poder.
O soberano não precisa dar satisfações de sua gestão, sendo
responsável apenas perante Deus " sob pena de morte eterna". Não
submetido a qualquer lei social, o soberano absoluto é a própria fonte
legisladora. A obediência a ele deve ser total, a não ser que ele se torne
impotente para assegurar paz durável e prosperidade. A fim de cumprir sua
tarefa, o soberano deve concentrar todos os poderes em suas mãos: "Os
pactos sem a espada não passam de palavras" .
Hobbes teme a eloqüência, o que hoje se
chamaria de demagogia. "É a loucura do vulgo e a eloqüência que concorrem
para a subversão dos Estados", diz Hobbes. Por isso ele
prefere um rei, assessorado por um conselho secreto de homens escolhidos.
Ao soberano absoluto deve pertencer, também, segundo Hobbes,
todo poder de decisão em matéria religiosa. "Não há quase nenhum dogma
referente ao serviço de Deus ou às ciências humanas de onde não nasçam
divergências que se continuam em querelas, ultrajes e, pouco a pouco, não
originem guerras; o que não sucede por falsidade dos dogmas, mas porque a
natureza dos homens é tal que, vangloriando-se de seu suposto saber, querem que
todos os demais julguem o mesmo". Hobbes não vê
solução para esses conflitos a não ser pela entrega de toda autoridade
religiosa ao soberano absoluto; caso contrário a religião ameaçaria a paz
civil.
O Estado deve instituir um culto único e obrigatório:
"porque, caso contrário, seriam encontradas em uma mesma cidade as mais
absurdas opiniões referentes à natureza divina e as mais impertinentes e
ridículas cerimônias jamais vistas".
Do homem ao Estado
A obra de Thomas Hobbes é
considerada, na área da ciência política, como importante referencial à
passagem do pensamento político para a modernidade política.
A questão da defesa de um Estado absoluto e forte marca todo
Leviatã, e esta contextualização histórica se passa principalmente num clima de
instabilidade política experimentado pela sociedade inglesa da época. As
reflexões de Hobbes caminham ainda em rica diversidade
teórico-filosófica desenvolvida sobre o Homem, o Estado e a Sociedade.
Quem lê Leviatã atento ao contexto social e
político da época em que foi escrito, não deixará de se surpreender com o rigor
científico, com as descobertas, reflexões e conceitos desenvolvidos sobre a
natureza humana. Suas relações sociais e o papel do Estado como sustentáculo
fundamental na formação da sociedade civil, serve até os nossos dias como
importante referência para se pensar o Estado moderno e suas vicissitudes .
De 1651, ano em foi publicado o Leviatã e quando Hobbes volta
da França para Inglaterra, até os nossos dias, apesar de consideráveis avanços
da humanidade em seu processo civilizatório, seu comportamento sócio-político é
inalterado, analisando-se pela ótica da política em seu sentido mais amplo. O
poder político, esta instância que se instaura entre os homens em qualquer
sociedade, envolve e movimenta povos e nações, continua sendo o principal meio
que funda e dá coesão as relações sociais. É assustador constatar, entretanto,
que os mecanismos e os atuais desejos de dominação entre os homens pouco difere
daqueles da época em que Hobbes se inspirou para
teorizar sobre o assunto.
Daí se pode afirmar que, diante da evidente atualidade do
pensamento de Hobbes, o qual tenta compreender o homem, o
Estado, suas idéias, conceitos e reflexões, ultrapassam a mera tentativa de
explicação histórica, ou mitológica, sobre o momento de passagem do estado de
natureza do homem para o "estado de sociedade".
Na realidade o que Hobbes descreve e
dá conta, é a compreensão dos processos e mecanismos que movem o ser humano em
sociedade, através de uma perspectiva extremamente realista e profunda,
desvendando a maquiagem encobridora da visão cristã, predominante na época.
Quando Hobbes fala sobre o
"estado de natureza", ele não está necessariamente falando sobre
condições pré-históricas da raça humana ou da vida nas sociedades primitivas,
ou ainda, não está falando sobre uma condição que é meramente uma possibilidade
teórica. Ele está falando a respeito de qualquer situação onde não exista
eficiência de um governo para impor a ordem.
Identificando como momento celular do comportamento humano a
busca da obtenção, manutenção e permanente ampliação do poder, Hobbes descreve,
com lógica e ousadia intelectual para a época, um modelo conceitual de Estado
(totalitário), definindo o que justifica sua existência, suas funções e os seus
limites.
Para atingir este objetivo ele inicia o seu trabalho
tentando compreender o homem, suas paixões, seus desejos e suas relações com o
outro. É da compreensão da natureza humana que Hobbes parte
para teorizar um modelo de Estado mais eficiente na tarefa de garantir a
manutenção do estado de sociedade.
Guilherme SM - Thomas Hobbes , in. link Origins, Internet, disponível em http://linkorigins.blogspot.com.br, revisto em 2014
Estas página são, predominantemente, resumos do artigo René
Descartes, in. Filosofia Moderna - Rubem Queiroz Cobra
COBRA.PAGES.nom.br, Internet, Brasília, 1997. Disponível na
internet em Filosofia Moderna.
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