Um resumo de Magnus Macedo sobre parte da obra de Jung
|
Baseado exclusivamente no trabalho de conclusão de curso
de Magnus Cesar de Macedo, aluno da The Society of Analytical
Psychology - London - affiliated to the Centre of Psychoanalytical Studies of
Essex University, Colchester, Essex U.K.
Tradução de Geraldo J Ballone
Por "psique" entendemos "o
conjunto de todos os processos psíquicos, tanto conscientes como
inconscientes" (CW vol. 6, página 463). A psique, portanto, é
constituída por imagens refletidas e processadas no cérebro. Imagens, sons,
emoções, sensações do mundo objetivo são processadas no cérebro de forma
claramente demonstrada pela neurociência moderna. Através da ressonância
magnética os pesquisadores são capazes de detectar e registrar os movimentos
mais "refinados" da energia que ocorre em todo o cérebro. Em
nosso mundo moderno a psicanálise e a neurociência caminham de mãos
dadas, contribuindo entre si e reciprocamente para as recentes aquisições do
conhecimento.
Mas a verdadeira natureza da psique ainda está muito além da
compreensão objetiva, mecanicista e reducionista da neurologia, da
psicopatologia, psiquiatria e das neurociências em geral. Jung defende a idéia
de que as imagens e objetos assumem o caráter de consciência apenas quando têm
alguma associação ao ego, caso não se associem ao ego esse material permanece
em nível inconsciente. A perda de memória é um exemplo típico deste fenômenos
psicológico.
A Consciência
A consciência é um fenômeno diretamente relacionado ao Ego. Para Jung, existem quatro funções da consciência; a sensação e razão, imaginação e entendimento. Ele faz ainda uma comparação do fluxo da consciência com um feixe de luz de uma tocha; tudo o que pertence ao feixe de luz visível se torna consciente, aquilo que está fora do feixe de luz, apesar de tenuamente iluminado, é inconsciente. Assim, tudo o que é visto, ouvido, sentido subliminarmente é armazenado no inconsciente, sem mesmo percebermos.
A consciência é um fenômeno diretamente relacionado ao Ego. Para Jung, existem quatro funções da consciência; a sensação e razão, imaginação e entendimento. Ele faz ainda uma comparação do fluxo da consciência com um feixe de luz de uma tocha; tudo o que pertence ao feixe de luz visível se torna consciente, aquilo que está fora do feixe de luz, apesar de tenuamente iluminado, é inconsciente. Assim, tudo o que é visto, ouvido, sentido subliminarmente é armazenado no inconsciente, sem mesmo percebermos.
É importante notar, porém, que as imagens de experiências
vividas, apesar de inconscientes, não deixam de existir. O fato de não
percebermos claramente esses elementos não significa que eles não estejam lá,
eles simplesmente não estão à disposição da consciência.
O material vivencial apreendido pela pessoa pode ter
representações que variam desde simples lembranças agradáveis da infância, com
intensa e gostosa luminosidade resistente ao tempo, até terríveis
experiências traumáticas envolvendo todo tipo de abusos psicológicos e físicos
dolorosos terrivelmente fixados em nossas memórias. Essas vivências podem se
tornar o que Jung chamou de "complexos psicológicos autônomos".
Normalmente, as experiências traumáticas, pelo fato de serem
perturbadoras e desagradáveis, são reprimidas, tanto consciente como
inconscientemente, pelos chamados "mecanismos psíquicos de autodefesa".
Esses mecanismos, com funções psicológicamente lenitivas, acomodam as
experiências emocionalmente dolorosas na profundidade do inconsciente.
Algumas vivências reprimidas jamais voltarão a emergir para
a superfície de nossa consciência, portanto, serão praticamente esquecidas na
profundidade de nosso mundo mental. Entretanto, é comum essas experiência
emocionais se rfevestirem de alguma energia afetiva e, dependendo do nível
de energia agregada a esses complexos psíquicos, alguns deles se farão
presentes na consciência indefinidamente, independentemente de nossa vontade,
de nosso consentimento ou nosso controle consciente.
Dependendo da intensidade das experiências vividas e da quantidade de
libido (energia) associada a elas, poderão permanecer ativas por longo período
de tempo, às vezes por décadas, às vezes para sempre. Os complexos psíquicos
fortemente carregados de energia (libido), mesmo estando reclusos na
profundidade do inconsciente, poderão se manifestar sutilmente e indiretamente
através de nossas atitudes, de nosso humor, de nossa fala, audição, de visões,
sonhos, fantasias, enfim, esses complexos psíquicos poderão “contaminar”
toda atitude existencial.
A influência que o material psíquico reprimido exerce na
vida da pessoa é, além de inegável, variada de acordo com sua carga energética
(libidinal). Os casos de repressões com intensidade libidinal muito forte podem
estar relacionados a patologias mentais francas, assim como, inversamente,
podem se relacionar apenas a certos desconfortos emocionais, muitas vezes
considerados "normais", os complexos psíquicos impregnados por
energia mais tênue e fraca.
Jung relacionava os atos falhos, como por
exemplo, os pequenos lapsos inexplicáveis de memória, como acontece quando uma
pessoa substitui o nome de um amigo por outro, de uma namorada por
outra, quando um objeto é exaustivamente procurado apesar de estar
bastante visível ou mesmo quando se diz algo chocante, como um deslize da
língua ou do vocabulário, sem sentido aparente.
Há numerosos exemplos destas ocorrências cotidianas
embaraçantes que nada mais são do que reflexos dos complexos psíquicos presentes
na vida de todos nós. Freud chamou alguns destes fenômenos de parapraxis, os
quais surgem quando os complexos autônomos do inconsciente explodem
em eloqüente disseminação energia na consciência, geralmente através
de algum impulso.
Esse fenômeno acontece freqüentemente em escala de grande
potência nas crises neuróticas agudas, na exuberante sintomatologia da
esquizofrenia, nas manifestações histéricas e estados afins. Jung dizia que a
neurose surgia quando “a consciência era inundada por material inconsciente”.
Jung argumenta ainda que o inconsciente deve ser
considerado "um órgão natural, com sua energia específica própria e
criativa". Ele define o conteúdo do inconsciente da seguinte
forma:
- Tudo aquilo que eu sei, mas que não estou pensando no
momento.
- Tudo que já me foi uma vez consciente, mas agora está esquecido.
- Tudo o que foi percebido pelos meus sentidos, mas não notado pela minha mente consciente.
- Tudo que involuntariamente sentido, pensado, lembrado e feito sem que tenha prestado atenção.
- Todas as coisas futuras que vão tomando forma em mim e chegarão, em algum tempo, à consciência.
- Tudo que já me foi uma vez consciente, mas agora está esquecido.
- Tudo o que foi percebido pelos meus sentidos, mas não notado pela minha mente consciente.
- Tudo que involuntariamente sentido, pensado, lembrado e feito sem que tenha prestado atenção.
- Todas as coisas futuras que vão tomando forma em mim e chegarão, em algum tempo, à consciência.
Isso compõe o conteúdos do inconsciente, além de toda repressão mais
ou menos intencional de pensamentos e sentimentos dolorosos. Jung atribuiu ao
inconsciente também uma função compensatória à consciência. Daí a
existência dos sonhos, devaneios e fantasias que a humanidade experimenta desde
tempos imemoriáveis.
"Por muitos anos tenho cuidadosamente analisados
cerca de 2.000 sonhos por ano, assim eu ter adquirido uma certa experiência
neste assunto", escreveu Jung em 1954, quando tinha setenta e nove
anos. O conhecimento profundo da alquimia, da mitologia grega, das culturas
indígenas, da filosofia clássica e oriental, da psiquiatria tornaram Jung
um dos grandes expert em sonhos de nosso tempo. Desse vastíssimo material sobre
o assunto pode-se sublinhar alguns conceitos de inestimável valor para o
conhecimento da psique humana.
Um sonho é um produto psíquico originário do estado de sono
e sem motivação consciente. Em um sonho a consciência não está completamente
extinta, há sempre um pequeno fragmento atuante. Na maioria dos sonhos, por
exemplo, ainda há a consciência do ego, embora seja um ego muito limitado e
distorcido, curiosamente conhecido como o ego onírico. É um mero fragmento ou
sombra do ego vigil consciente (CW 8 - P305).
Como acontece no estado de vigília, onde as pessoas reais e
as coisas entram em nosso campo de visão, no sonho as imagens são inseridas em
outro tipo de realidade que faz parte do campo da consciência do ego
onírico. Não nos sentimos como se estivéssemos produzindo
conscientemente sonhos, pois eles, além de não estarem sujeitos ao nosso
controle, obedecem às suas próprias leis. Os sonhos são, obviamente, complexos
psíquicos autônomos que se formam por conta própria e de seu próprio
material. Por outro lado, a origem das motivações dos sonhos não é de nosso
conhecimento consciente e pode-se dizer que os sonhos vêm diretamente do
inconsciente (CW 8 - P305).
A existência de fantasias inconscientemente e não
realizadas aumenta a freqüência e a intensidade dos sonhos. Quando essas
fantasias se tornam conscientes os sonhos mudam seu caráter e se tornam menos
intensos e menos freqüentes. A partir disso podemos concluir que os sonhos
muitas vezes contêm fantasias que "desejam" se tornarem
conscientes.
Sonhos não enganam, não distorcem, não mentem e nem
disfarçam; eles sempre procuram expressar algo que o Ego não compreentende ou
nem sabe. Um sonho é um auto-retrato espontâneo e de forma simbólica da
realidade e da situação do inconsciente.
Assim como o corpo reage fisiologiamente às agressões,
ferimentos, infecções ou qualquer outra condição anormal, as funções psíquicas
também reagem à perturbações emocionais perigosas com mecanismos de
defesa intencional. Entre as reações defensivas propositais
(compensatórias) do inconsciente incluímos os sonhos (CW 8 - P253).
Durante a Primeira Guerra Mundial os soldados sonhavam muito
menos com a guerra quando estavam no campo de combate do que quando estavam em
suas casas. Os psiquiatras militares consideravam fundamental retirar o soldado
das linhas de frente quando ele começava a sonhar muito com as cenas de guerra;
- isso significava que o soldado já não possuía defesas psíquicas eficientes
contra as solicitações (vivenciais) de fora. (CW 8 - P303)
Assim como a atividade psíquica consciente pode criar
mecanismos defensivos, inconscientemente nossa atividade psíquica produz
sonhos, fantasias, etc. Um sonho que se nos apresenta não é criado
conscientemente, apesar de termos consciência de sua percepção e mesmo
reprodução. O sonho continua sendo uma fonte de atividade criativa
inconsciente (CW 6 - p485).
"... O inconsciente tem uma função
compensatória à consciência, mas especularmos o que o inconsciente é em si,
pode ser uma atitude estéril ... Por sua própria natureza, a compreensão do
inconsciente vai além de toda nossa cognição e o que conseguimos, apenas, é ter
acesso aos produtos do inconsciente, tais como os sonhos e fantasias, mas não
temos acesso ao inconsciente em si. Um fato cientificamente comprovado é
que os sonhos, por exemplo, quase sempre têm um conteúdo que pode aliviar e
corrigir a atitude da consciência. Por isso falamos da função compensatória do
inconsciente " (CW 6 - P520).
Para Jung, os instintos e os arquétipos formam
o chamado inconsciente coletivo. Coletivo porque, ao
contrário do inconsciente pessoal, este tipo de inconsciente não tem
características únicas e individuais, mas ocorrência universal, regular e
coletiva. Tal como acontece com os instintos, o inconsciente coletivo é
um fenômeno comum a toda a humanidade para Jung . Ele defende a idéia de que as
imagens do inconsciente coletivo e os arquétipos são
a origem e composição dos "grandes sonhos".
Jung atribui aos arquétipos as mesmas
qualidades fisiológicas dos instintos, portanto, são fenômenos
comuns à toda humanidade. Tal aspecto universal explicaria, para Jung, ter
encontrado as mesmas similaridades mitológicas (arquetípicas) nos sonhos de
seus pacientes em Basileia, na Suíça, e os aborígines na Austrália. Encontrou
ainda as mesmas semelhanças dos sonhos entre os afro-americanos e os
europeus arianos, e da mesma forma entre os loucos e os não loucos.
É importante ressaltar que, do ponto de vista junguiano,
existem cinco grupos principais de fatores instintivos, a fome,
a sexualidade, a criatividade, a atividade e
a reflexão, sendo esta última de natureza cultural por
excelência (P CW8 114). Jung, ao contrário do filósofo inglês John Locke(1),
acreditava que "o homem não nasce como uma tábula rasa", mas
com um cérebro que é o resultado do desenvolvimento de uma longa sucessão e
cadeia de antepassados (CW 8 p 372).
(1) - O filósofo inglês John Locke (1632-1704),
considerado o protagonista do empirismo, detalhou a teoria da Tabula Rasa em
seu livro, Ensaio acerca do Entendimento Humano (1690). Para
Locke, todas as pessoas nascem sem saber de absolutamente nada, sem
impressões alguma, sem conhecimento algum. Então todo o processo do conhecer,
do saber e do agir é aprendido pela experiência, depois do nascimento pela
tentativa e erro (i.e. o homem nasce como se fosse uma "folha em
branco"). Contra esse argumento Jung faz uma comparação: seria como
se os passaros, ao nascerem, precisassem cada um aprender por si a tecer seu
ninho.
Segundo Jung, "se o inconsciente coletivo não
existisse, tudo poderia ser alcançado através da educação; esta poderia reduzir
um ser humano a uma máquina psíquica com a impunidade, ou transformá-lo em um
ideal" (CW8 P373). Em última análise, oinconsciente coletivo seria
um depositário do mundo, da existência humana, estaria inserido na
estrutura do cérebro e do sistema nervoso simpático (CW8 P373).
A Unidade “SELF e ALMA”
Por "self" entendemos um conceito empírico, ou seja, “toda a gama de fenômenos psíquicos no ser humano. Ela expressa a unidade da personalidade como um todo” (CW vol. 6, p 460). Por "alma" entendemos “um complexo funcional definido que pode ser mais bem descrito como uma personalidade” (CW vol. 6, p 463). Para Jung, a unidade do Self e Soul representa a razão da nossa própria existência. Esta unidade, ou personalidade, tem características únicas em cada um de nós. Por causa dessa particularidade o nosso inconsciente não age apenas de forma instintiva e coletiva, mas, sobretudo, de forma subjetiva e pessoal.
Por "self" entendemos um conceito empírico, ou seja, “toda a gama de fenômenos psíquicos no ser humano. Ela expressa a unidade da personalidade como um todo” (CW vol. 6, p 460). Por "alma" entendemos “um complexo funcional definido que pode ser mais bem descrito como uma personalidade” (CW vol. 6, p 463). Para Jung, a unidade do Self e Soul representa a razão da nossa própria existência. Esta unidade, ou personalidade, tem características únicas em cada um de nós. Por causa dessa particularidade o nosso inconsciente não age apenas de forma instintiva e coletiva, mas, sobretudo, de forma subjetiva e pessoal.
A descrição de Ego para Jung
Mesmo se o Ego ocupasse o centro da psique, ele não representaria a totalidade do Self. O ego pode ser mais bem descrito como um complexo psíquico com a mesma natureza da consciência. Daí Jung ter falado em "ego-complexo", que seria apenas mais um complexo psíquico entre outros.
Mesmo se o Ego ocupasse o centro da psique, ele não representaria a totalidade do Self. O ego pode ser mais bem descrito como um complexo psíquico com a mesma natureza da consciência. Daí Jung ter falado em "ego-complexo", que seria apenas mais um complexo psíquico entre outros.
O Ego é um complexo que não compreende o ser humano total,
uma função que esquece infinitamente mais do que sabe. Não obstante, o Ego tem
visto e ouvido infinitamente, mas nunca se tornou plenamente consciente.
Há pensamentos completamente formados que surgem fora do alcance da consciência
e dos quais o Ego nada sabe. O Ego tem uma vaga noção da incrível e importante
função reguladora do sistema nervoso simpático em relação ao processo de
equilíbrio interno do corpo. O Ego talvez compreenda uma parte menor do que uma
consciência plena teria de compreender (CW Vol.8 p 324).
É evidente que o modelo da psique de Jung não foi baseada
apenas no Ego, ou no ego- complexo, mas sobretudo, também em outros
complexos. Se tomarmos o diagrama abaixo como base de entendimento da psique
humana, percebemos o Ego como parte consciente e parte inconsciente. A mesma
localização dupla se aplica para a sensação e para a intuição.
O sentimento, por sua vez, se instala bem no
fundo do inconsciente, enquanto opensamento está totalmente
consciente. Tal diagrama (figura) gerou inúmeras e acaloradas discussões no
mundo psicanalítico ao longo do tempo, muito embora tenha contribuído
didaticamente para o estudo e compreensão do assunto complexo como a psique.
|
|
Apesar de ter havido numerosas tentativas, desde nossa
pré-história, para classificar e categorizar as diferenças entre os indivíduos,
o ser humano nunca conseguiu realmente encontrar uma solução definitiva para
este enigma, talvez simplesmente porque não se tratar de um enigma.
Não obstante, através de sua teoria de tipos psicológicos Jung criou um princípio que tem sido aplicado como um ponto de observação em muitas práticas analíticas modernas, mesmo por diferentes escolas de pensamento psicanalítico.
Não obstante, através de sua teoria de tipos psicológicos Jung criou um princípio que tem sido aplicado como um ponto de observação em muitas práticas analíticas modernas, mesmo por diferentes escolas de pensamento psicanalítico.
A contribuição dos tipos psicológicos de Jung hoje é
reconhecida mundialmente como um dos princípios básicos de classificação
psíquica. Esse conceito junguiano tem influência mesmo fora do campo
psicanalítico, como é o caso da tipologia de Myers-Briggs, por exemplo, é muito
popular na formação em gestão e negócios.
A suposição de que só existe uma psicologia ou apenas um
princípio psicológico fundamental ao ser humano é de uma tirania intolerável, é
um preconceito pseudocientífico para com o homem comum e sua psicologia. É
igualmente intolerável falar de uma "realidade" única. A realidade é,
de fato, aquilo vivenciado pela alma humana [...] e mesmo quando a realidade é
tratada por um espírito científico, não se deve esquecer que a ciência não é a ‘summa’
da vida, mas apenas uma das formas de pensamento humano (CW vol. 6 p 41).
Emprestado da fisiologia e de Goethe, Jung usou diástole e
sístole como bases para desenvolver sua teoria da
"Extroversão-Introversão", os tipos básicos de personalidade.
Diástole na fisiologia da cardiologia significa o momento em que o coração
relaxa e deixa o sangue fluir para dentro dele. Sístole, pelo contrário, é
quando os músculos cardíacos se contraem para bombear o sangue para fora dele.
Como o próprio Jung observa, os nomes e os conceitos para
descrever o mecanismo da introversão-extroversão podem ter muito sentido para o
observador em questão; no entanto, talvez ele tenha preferido esses termos
devido o seu fascínio por Goethe, que utilizou a mesma metáfora em sua
obra Fausto.
Jung descreveu a si próprio como um "pensador
introvertido" com a "intuição" como sua segunda função mais
forte. Por outro lado, Goethe poderia ser descrito como o “pensador
extrovertido”, tendo também a" intuição "como sua segunda função mais
forte.
Extroversão é uma expansão da libido (energia).
No estado extrovertido as pessoas pensam, sentem e agem em função do objeto ... Em certo sentido a extroversão é uma transferência de interesse do sujeito para o objeto ... A extroversão é “ativa” quando intencional e “passiva” quando o objeto contém um interesse subjetivo. Quando a extroversão é habitual na vida da pessoa falamos em um tipo extrovertido (CW vol. 6 p427).
Extroversão é uma expansão da libido (energia).
No estado extrovertido as pessoas pensam, sentem e agem em função do objeto ... Em certo sentido a extroversão é uma transferência de interesse do sujeito para o objeto ... A extroversão é “ativa” quando intencional e “passiva” quando o objeto contém um interesse subjetivo. Quando a extroversão é habitual na vida da pessoa falamos em um tipo extrovertido (CW vol. 6 p427).
Dependendo da situação que nos encontramos todos nós podemos
ser introvertidos ou extrovertidos, embora exista também uma importante condição
herdada geneticamente capaz de influir sobre a predominância de um tipo ou
outro.
Para Otto Gross o tipo extrovertido
representa o gênio "civilizador" e do tipo introvertido o
gênio "cultural", a primeira para a realização prática e a última
para a invenção abstrata.
Extrovertidos e introvertidos também podem ser subdivididos em quatro subtipos de acordo com as quatro funções psicológicas. Isso acabará resultando em oito tipos categóricos:
Extrovertidos e introvertidos também podem ser subdivididos em quatro subtipos de acordo com as quatro funções psicológicas. Isso acabará resultando em oito tipos categóricos:
1. Extrovertido tipo pensamento,
2. Extrovertido tipo sensação,
3. Extrovertido tipo intuitivo,
4. Extrovertido tipo sentimento,
5. Introvertido tipo pensamento,
6. Introvertido tipo sensação,
7. Introvertido tipo intuitivo,
8. Introvertido tipo sentimento.
2. Extrovertido tipo sensação,
3. Extrovertido tipo intuitivo,
4. Extrovertido tipo sentimento,
5. Introvertido tipo pensamento,
6. Introvertido tipo sensação,
7. Introvertido tipo intuitivo,
8. Introvertido tipo sentimento.
Na realidade, estas funções não estão igualmente presentes
na vida real, havendo sempre uma predominância de uma delas sobre as demais, as
quais ficam em segundo plano, isto é, uma disposição predominantemente
emocional não pode também predominantemente pensar racionalmente. Algumas
pessoas são guiadas em suas vidas, por seus sentimentos, outros por seu
pensamento, outros ainda por sua sensibilidade e, finalmente, outros por sua
intuição, independentemente serem extro ou introvertidos. Essas pessoas podem ser
extrovertidas ou introvertidas, dependendo do seu ambiente cultural e de
formação genética.
Há introvertidos e extrovertidos otimistas, bem como
introvertidos e extrovertidos pessimistas. Apesar das classificações não
bastarem para explica a psique da pessoa em sua individualidade, uma
compreensão dos tipos psicológicos abre o caminho para uma melhor compreensão
da psicologia humana em geral (CW 6 p 516).
ALMA: anima, animus, persona, sombra.
Mais clara, talvez, do que qualquer outra ciência, a psicologia demonstra a transição espiritual a partir da idade clássica à moderna. A história da psicologia até ao século XVII consiste essencialmente na enumeração das doutrinas sobre a "alma", mas a "alma" nunca foi capaz de obter uma definição como objeto investigado.Assim, Jung desenvolveu uma teoria caracterizando a alma através de quatro conceitos psicológicos: anima/animus, ego, persona e sombra. Ele chamou esta idéia “Complexos Funcionais” ou de “Personalidade”.
ALMA: anima, animus, persona, sombra.
Mais clara, talvez, do que qualquer outra ciência, a psicologia demonstra a transição espiritual a partir da idade clássica à moderna. A história da psicologia até ao século XVII consiste essencialmente na enumeração das doutrinas sobre a "alma", mas a "alma" nunca foi capaz de obter uma definição como objeto investigado.Assim, Jung desenvolveu uma teoria caracterizando a alma através de quatro conceitos psicológicos: anima/animus, ego, persona e sombra. Ele chamou esta idéia “Complexos Funcionais” ou de “Personalidade”.
Quando ele fala da alma como "anima", ele se refere
ao aspecto feminino dos seres humanos. O homem, apesar de masculino, por
exemplo, tem uma alma feminina, ou anima, enquanto a mulher, apesar de
feminina, tem uma alma masculina, ou um animus. Se tomarmos a persona de um
homem através de seu lado "exterior", ele estará mostrando o seu
animus natural para o mundo externo, assim, esperamos que ele tenha a anima na
alma.
O motivo é que um lado complementa o outro, diz Jung. A
anima geralmente compensa todas as qualidades que faltam na atitude consciente
de um homem masculino. Isto explica porque apenas os homens viris estão mais
sujeitos à fraquezas e sugestionabilidade características do sexo feminino. Por
outro lado, apenas as mulheres mais femininas podem mostrar uma
intratabilidade, obstinação e teimosia em sua vida interior comparável apenas
às atitude externas masculinas.Estes são traços masculinos que, ao contrário da
atitude exterior feminina, mostram qualidades de sua alma, tal como uma alma
tipo animus ".
Partindo do ponto de vista junguiano de que a "alma"
é o mesmo que "personalidade" ou o mesmo que anima/animus,
isso nos levaria a pensar que deve existir uma dissociação da personalidade
mesmo diante da normalidade, como se fosse “anjo para o exterior e o diabo
em casa”, ou vice-versa, é uma forma de dividir personagem muito comum em
nossa experiência cotidiana.
Dependendo da identificação do ego com a situação, e se isso
se torna uma atitude habitual, em seguida, o indivíduo desenvolverá uma
personalidade dividida, uma parte adaptada à vida doméstica e outra (uma
'persona') para a vida social. Este é um caso comum difundido em nossa
sociedade.
Jung define a persona como "... o sistema
individual de adaptação para o mundo. Toda vocação, profissão ou papel social,
por exemplo, tem a sua própria persona característica. Pode-se dizer, com pouco
de exagero, que a persona é aquilo que na realidade não é, mas tanto si mesmo,
quanto os outros acham que é" (CW9, n º 221).
Já que temos falado sobre o ego, anima/animus e persona,
agora veremos o quarto conceito, o mais complicado deles, o complexo funcional
chamado “sombra”. A sombra, no entender de Jung, é a obscuridade,
a peça de origem coletiva da personalidade inconsciente, misteriosa e nebulosa.
"A sombra é aquilo que a pessoa deseja não ser" (Para CW16 470).
A sombra compreende todo o aspecto histórico do
inconsciente, compõe-se de sentimentos ocultos, reprimidos em sua maior parte,
complexo de culpa e de inferioridade, cujas origens remontam ao reino animal do
qual fazemos e fazia parte nossos ancestrais... Acreditava-se que a sombra do
ser humano era a fonte natural de todo o mal, porém, através da investigação do
inconsciente humano, sabe-se agora que sua sombra, não é constituída apenas de
tendências moralmente condenáveis, mas também de uma série de boas qualidades,
como por exemplo, os instintos normais, as reações adequadas à sobrevivência, a
compreensão realista, impulsos criativos, etc. (CW 9 parágrafos 422 e 423).
Em sua última definição Jung observa que a sombra é também a
sede da criatividade, racionalidade, força e outras boas qualidades da psique
humana. Mas os maus aspectos da sombra realmente podem ser esmagadores. O
fisiológico caráter egoísta deste aspecto de nossa personalidade é preocupante.
É assim que uma pessoa tende a projetar seus próprios aspectos negativos sobre
as outras. Devemos perceber que, em geral, todas as más qualidades que nos
constatamos nos outros vem, de fato, de nós mesmos. É fácil atribuir aos
projetos alheios alguns defeitos que justificam nossa intolerância.
Geralmente nós acusamos nosso inimigo de nossa própria
falhas. A psicologia da guerra fez isso de forma bem clara: “tudo que
meu país faz é bom, tudo o que os outros países fazem é mau." Como os
indivíduos têm esse tipo de psicologia primitiva, toda tentativa de trazer tais
projeções antigas para a consciência é tida como irritante. Naturalmente
gostaríamos de ter melhores relações com os companheiros, mas apenas na
condição deles viverem tal como nossas expectativas, em outras palavras, que os
outros estejam dispostos à nossas expectativas" (CW 8 p 271).
Assim, é bastante clara a razão de tantos conflitos e
atrocidades em todo o mundo ao longo da história da humanidade. O mal também é
parte da formação da natureza psíquica do ser humano. Jung acreditava que só
através do autoconhecimento o homem seria capaz de minimizar ou, talvez, acabar
finalmente com os conflitos causados pelos instintos primitivos.
“Hoje precisamos da psicologia por razões que envolvem
a nossa própria existência.Ficamos perplexos e estupefatos diante dos fenômenos
do nazismo e do bolchevismo, porque não sabemos nada sobre ser humano ou, ao
menos, temos apenas uma imagem parcial e distorcida dele. Se tivéssemos autoconhecimento
este não seria o caso. Estamos face a face com a terrível questão do mal e nem
sequer sabemos que está diante de nós, muito menos o que fazer contra ele”
(Memories dreams reflections, p 363).
Jung acreditava que tocar o mal levava ao risco de sucumbir
a ele e não devemos sucumbir nem ao bem, nem ao mau. Sucumbir ao que crie uma
unilateralidade é uma espécie de vício que também não faz uma personalidade
saudável. “O mal tem que ser ponderado, tanto quanto o bem, afinal, o
bem e o mal não são extensões de um ideal e de fazer abstrações, ambos
pertencem ao ‘claro-escuro’ da vida ... em última instância, não há nenhum bem
que não possa produzir o mal e nenhum mal que não possa produzir o bem"
(CW 12, p 31).
O perigo que ameaça a todos nós vem da psique do indivíduo e
da massa coletiva, não da natureza ... "Se certas pessoas perdem a
cabeça hoje em dia, pode resultar em uma bomba de hidrogênio"
(Memories dreams reflections, p 154). Por isso o autoconhecimento é crucial
para a sobrevivência e desenvolvimento psicológico da humanidade. E a este
processo de autoconhecimento Jung chamou de "individuação".
Individuação
A individuação é um processo natural que ocorre a todos nós em um determinado período de nossas vidas. Normalmente acontece entre meados dos trinta e o final dos quarenta anos. É o momento em que o indivíduo começa lentamente deixar de ser uma auto comunal para se tornar um indivíduo com afirmações próprias e opiniões próprias sobre as coisas.
A individuação é um processo natural que ocorre a todos nós em um determinado período de nossas vidas. Normalmente acontece entre meados dos trinta e o final dos quarenta anos. É o momento em que o indivíduo começa lentamente deixar de ser uma auto comunal para se tornar um indivíduo com afirmações próprias e opiniões próprias sobre as coisas.
A partir daí ele já não é tão influenciado pelo
comportamento da massa, mas, ao invés disso, desenvolve suas próprias
características de atitudes diante da vida. Mesmo assim, a maioria de nós nunca
será capaz de dissociar completamente do comportamento da massa e do pensamento
coletivo, portanto, o processo de individuação é crucial para
nos diferenciarmos. Nós, seres humanos, somos animais sociais por natureza e,
naturalmente, nos influenciamos mutuamente de várias e distintas maneiras.
O processo de individuação retorna o ser
humano ao seu interior, ao seu mundo subjetivo, que certamente estará cheio de
novas descobertas e realizações de seu próprio eu. Poderia ser chamado de
"maturidade da alma humana”, quando a morte parece mais à vista e questões
existenciais, inevitavelmente, começam a surgir. "O significado é então
tudo o que procura”.
Assim, o processo de individuação é crucial para o desenvolvimento da humanidade. Se as populações foram compostas de equilíbrio, de indivíduos com psique saudável, muitos problemas poderiam ter sido evitados em nosso mundo atual.
Assim, o processo de individuação é crucial para o desenvolvimento da humanidade. Se as populações foram compostas de equilíbrio, de indivíduos com psique saudável, muitos problemas poderiam ter sido evitados em nosso mundo atual.
Para resumir de maneira minimalista o vasto material que
Jung escreveu sobre a psique: o autoconhecimento da própria psique
representaria uma transformação coletiva positiva que poderia poupar a
humanidade de uma parte significativa de sofrimento e desespero.
Um homem deve ser capaz de conhecer sua própria capacidade de fazer o bem e o mal ... E como Jung afirmou em 1906, o ser humano moderno é rico em conhecimento, mas pobre em sabedoria ...Parece que o mundo não mudou muito desde então.
Um homem deve ser capaz de conhecer sua própria capacidade de fazer o bem e o mal ... E como Jung afirmou em 1906, o ser humano moderno é rico em conhecimento, mas pobre em sabedoria ...Parece que o mundo não mudou muito desde então.
Magnus
Cesar de Macedo
Bibliography:
Jung, C.G. - Collected Works 5, Symbols of Transformation, Bollingen series XX – Princeton University Press, NJ US
Jung, C.G. – Collected Works 6, Psychological Types, Bollingen
Series XX – Princeton University Press, NJ US
Jung, C.G. – Collected Works 8, Structure and Dynamics of the Psyche, Bollingen Series XX – Princeton University Press, NJ US
Jung, C.G. – Collected Works 9, Archetypes and The Collective Unconscious, Part I, Bolllingen Series XX – Princeton University Press, NJ US
Jung, C.G. – Collected Works 12, Psychology and Alchemy, Routledge Edition, England UK
Jung, C.G. – Dreams, Routledge Classics, London and New York editions 2002. England UK
Jung, C.G. – Memories, Dream, Reflections – Fontana Press
London, UK
Jung, C.G. - Collected Works 5, Symbols of Transformation, Bollingen series XX – Princeton University Press, NJ US
Jung, C.G. – Collected Works 6, Psychological Types, Bollingen
Series XX – Princeton University Press, NJ US
Jung, C.G. – Collected Works 8, Structure and Dynamics of the Psyche, Bollingen Series XX – Princeton University Press, NJ US
Jung, C.G. – Collected Works 9, Archetypes and The Collective Unconscious, Part I, Bolllingen Series XX – Princeton University Press, NJ US
Jung, C.G. – Collected Works 12, Psychology and Alchemy, Routledge Edition, England UK
Jung, C.G. – Dreams, Routledge Classics, London and New York editions 2002. England UK
Jung, C.G. – Memories, Dream, Reflections – Fontana Press
London, UK
0 comentários:
Postar um comentário
! Antes de imprimir pense em seu compromisso com o meio ambiente.