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EU LÍRICO
Sou filho de dois poetas.
Os enfrentamentos domésticos traduziam Bucólicas, Geórgicas, Éclogas.
Os pais gastavam o dicionário em ironia e sarcasmo. Palavras velhas, aforismos, citações serviam para cutucar o outro na mesa
durante o almoço.
Não usavam palavrões, entretanto se ofendiam igual, com raiva e espuma.
Trocavam o baixo calão pelos arcaísmos.
Nós, os quatro filhos, dedicávamos a decifrar as indiretas. Mas os pais, escolados e chiques, não admitiam discutir.
— Estamos apenas debatendo — avisava o pai.
Sim, fingíamos acreditar, desde quando o divórcio era Curso de Literatura?
O “eu lírico” predominava como principal recurso para disfarçar o atrito.
— Não é briga de verdade, nossos eus líricos divergiram.
— Eu lírico, pai?
— O eu lírico é a voz do poema, não significa a voz do escritor. É um sentimento que vem do texto, e que não foi vivido
necessariamente pelo autor. É um “eu” poético que se diferencia do “eu” real.
Aquilo nos irritava duplamente: pelo moralismo e pela mentira.
No fundo, o eu lírico é uma esquizofrenia de gente culta, só isso.
Toda conversa que cheirava mal vinha com a desculpa do “eu lírico”. Uma espécie de “brincadeirinha”.
Ninguém assumia a responsabilidade das suas teorias. O pai escapava do peso das afirmações, a mãe escamoteava da gravidade
das acusações.
Dois adultos livres do julgamento e de veneno irrefreável.
Foi neste tempo, tinha oito anos, que acho que comecei a me masturbar.
Já me preocupava muito mais em saciar o corpo do que acalmar a loucura do matrimônio deles.
Pena que não havia privacidade sexual numa residência de um único banheiro.
Precisava escolher o momento mais pacato e sem concorrência para me tocar. Costumava ser 15h, depois do congestionamento do
almoço. Até para se masturbar tinha que marcar hora, e reservar sala.
Numa tarde pacífica, municiado de Playboys antigas, eu batia punheta com calma quando a mãe forçou a porta e a tranca
automática cedeu.
Ela me pegou em flagrante. Em vez de olhar e desaparecer, abriu a porta e congelou seu rosto em mim. Fixou seus olhos na
minha pose de banquinho.
Ainda perguntou à queima-roupa:
— Filho, o que está fazendo?
Diante do óbvio, me restou responder:
— Nada, mãe, é o meu eu lírico.
__________________F. Carpinejar
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Vênus, seu planeta regente, está em contato desafiador com o planeta Júpiter, Touro.
Atenção com gastos e gestos excessivos, que gerem dificuldades materiais e emocionais.
Você está vivendo de acordo com seus verdadeiros valores e com o que é importante?Isabel Mueller
¨
Bon JEUDI...
_____________Le RÖI.
p
Fuiii...
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EU LÍRICO
Sou filho de dois poetas.
Os enfrentamentos domésticos traduziam Bucólicas, Geórgicas, Éclogas.
Os pais gastavam o dicionário em ironia e sarcasmo. Palavras velhas, aforismos, citações serviam para cutucar o outro na mesa
durante o almoço.
Não usavam palavrões, entretanto se ofendiam igual, com raiva e espuma.
Trocavam o baixo calão pelos arcaísmos.
Nós, os quatro filhos, dedicávamos a decifrar as indiretas. Mas os pais, escolados e chiques, não admitiam discutir.
— Estamos apenas debatendo — avisava o pai.
Sim, fingíamos acreditar, desde quando o divórcio era Curso de Literatura?
O “eu lírico” predominava como principal recurso para disfarçar o atrito.
— Não é briga de verdade, nossos eus líricos divergiram.
— Eu lírico, pai?
— O eu lírico é a voz do poema, não significa a voz do escritor. É um sentimento que vem do texto, e que não foi vivido
necessariamente pelo autor. É um “eu” poético que se diferencia do “eu” real.
Aquilo nos irritava duplamente: pelo moralismo e pela mentira.
No fundo, o eu lírico é uma esquizofrenia de gente culta, só isso.
Toda conversa que cheirava mal vinha com a desculpa do “eu lírico”. Uma espécie de “brincadeirinha”.
Ninguém assumia a responsabilidade das suas teorias. O pai escapava do peso das afirmações, a mãe escamoteava da gravidade
das acusações.
Dois adultos livres do julgamento e de veneno irrefreável.
Foi neste tempo, tinha oito anos, que acho que comecei a me masturbar.
Já me preocupava muito mais em saciar o corpo do que acalmar a loucura do matrimônio deles.
Pena que não havia privacidade sexual numa residência de um único banheiro.
Precisava escolher o momento mais pacato e sem concorrência para me tocar. Costumava ser 15h, depois do congestionamento do
almoço. Até para se masturbar tinha que marcar hora, e reservar sala.
Numa tarde pacífica, municiado de Playboys antigas, eu batia punheta com calma quando a mãe forçou a porta e a tranca
automática cedeu.
Ela me pegou em flagrante. Em vez de olhar e desaparecer, abriu a porta e congelou seu rosto em mim. Fixou seus olhos na
minha pose de banquinho.
Ainda perguntou à queima-roupa:
— Filho, o que está fazendo?
Diante do óbvio, me restou responder:
— Nada, mãe, é o meu eu lírico.
__________________F. Carpinejar
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Vênus, seu planeta regente, está em contato desafiador com o planeta Júpiter, Touro.
Atenção com gastos e gestos excessivos, que gerem dificuldades materiais e emocionais.
Você está vivendo de acordo com seus verdadeiros valores e com o que é importante?Isabel Mueller
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Bon JEUDI...
_____________Le RÖI.
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